O telefone toca. É o gerente do seu banco. A voz é amigável, ele te chama pelo primeiro nome e diz que tem uma “oportunidade imperdível”, um produto sofisticado que pode te dar ganhos da bolsa com a segurança da renda fixa. O nome é bonito: Certificado de Operações Estruturadas, ou simplesmente COE. Ele fala em “taxa zero”, em “potencial de ganhos” e você, que rala o mês inteiro para juntar seu dinheiro, pensa: “finalmente o banco está do meu lado”.
F*da-se isso.
Eu digo com essa clareza porque não existe almoço grátis, muito menos no mercado financeiro. O gerente do banco não é seu amigo, ele é um funcionario comissionado. E o COE, na maioria das vezes, não é uma oportunidade para você. É uma oportunidade para ele bater a meta e para o banco encher o bolso com o seu dinheiro. Eu sei disso porque já vi o estrago de perto tanto na minha experiencia como profissional quanto ouvindo nos corredores em meu tempo de carreira. Fizemos uma leitura de um caso num R/investimentos em que um cara contou que caiu nesse conto e aplicou mais de R$ 50.000 em um COE. A sorte dele? O investimento era de apenas um ano e, por um acaso do destino, rendeu 8%. Ele ficou na dúvida: “Será que o COE é tão ruim assim ou devo reaplicar?”.
Essa pergunta é a armadilha perfeita. Ela te faz focar no resultado (os 8%) e te cega para a realidade brutal do jogo que estão jogando com você. Este post não é para te dizer para não investir em COEs. É para te dar o arsenal mental para que você desmonte a oferta do gerente na frente dele e tome o controle da situação.
O que Diabos é um COE? Desmontando o “Prato Feito”
Esqueça o jargão. Imagine que você vai a um restaurante e, em vez de escolher seu prato, o garçom te oferece uma caixa surpresa. Ele diz: “Aqui dentro pode ter alguns itens, Lou Fassum, Massa Choux, aspic e galantina e uma paella e risoto, e você alem de não entender nada do que o garçon falou, você nãosabe como é feito os pratos e nem se vai vir do seu agrado, e ao invez de perguntar o que é cada um dos pratos você só, Confia no chef”.
Isso, para mim, é um COE quando ele é apresentado da forma errada. É um pacote fechado com vários investimentos dentro – um pouco de renda fixa, um pouco de ações, talvez um índice de inflação, tudo misturado. O problema é que, na maioria das vezes, essa mistura é feita para beneficiar muito mais o “chef” (o banco) do que você, proncipalmente quand você não entende no que está investindo .
A polêmica em torno do COE existe por três motivos simples:
- Complexidade Intencional: A estrutura é tão confusa que a maioria das pessoas não entende no que está colocando o dinheiro. E essa é a estratégia. Quando você não entende, você não questiona. Você confia. E essa confiança cega é o bem mais valioso para o vendedor.
- Comissões Obscenas: Lembra da “taxa zero”? É a maior mentira que te contam. A taxa não é cobrada de você diretamente, ela está embutida na estrutura do produto. A comissão de distribuição de um COE é tão gorda que a corretora ao montar deperminado produto, ela já embutiu o custo dentro dela e muitas vezes te entregam uma rentabilidade inferior a que poderiam estar te entregando, por conta do grande spread ao montar a estrutura.
- Risco Desproporcional: Eles te vendem a ideia de “segurança”, mas muitas vezes o risco que você corre não compensa o retorno potencial. Em muitos casos, você trava seu dinheiro por anos para, na melhor das hipóteses, ter um rendimento pífio.
“Mas o Meu Rendeu 8%!” – A Ilusão do Bom Resultado
Vamos voltar ao caso do Reddit. O investidor está feliz com seus 8% de retorno. E olhando isoladamente, parece bom. Mas essa é a pergunta errada. A pergunta certa, a que eu quero que você, como comandante do seu dinheiro, faça, é: “8% comparado a quê?”
Se o COE dele estava atrelado à bolsa brasileira, ele está comparando um ativo de risco (renda variável) com o quê? Se, no mesmo período, um investimento simples, seguro e sem dor de cabeça como o Tesouro Selic (o famoso CDI) rendeu 13%, ele não ganhou 8%. Ele perdeu 5%. Ele deixou de ganhar 5% por ter corrido um risco que não precisava.
Você precisa comparar maçã com maçã e banana com banana. Comparar um COE de bolsa com um CDB qualquer é um erro de principiante. O gerente se aproveita dessa falta de parâmetro para te vender um resultado medíocre como se fosse uma grande vitória. O seu custo de oportunidade – aquilo que você deixa de ganhar por fazer uma escolha ruim – é o ladrão silencioso da sua riqueza.
A Pergunta de R$ 1 Milhão que Desmonta 99% dos COEs
Eu quero que você memorize esta pergunta. Anote. Tatue na sua mente. Da próxima vez que alguém te oferecer um COE, ou qualquer outro investimento complexo, respire fundo, olhe nos olhos da pessoa e pergunte:
“Vale a pena eu correr este risco para, talvez, nem superar o CDI?”
Essa pergunta é uma granada. Ela desmonta 99% dos argumentos de venda. Porque, na maioria esmagadora dos COEs, a resposta honesta é “não”. Para você superar o rendimento do ativo mais seguro do país, muitas vezes a bolsa precisa ter uma alta muito expressiva, um cenário que ninguém pode garantir.
Na prática, você está fazendo uma aposta onde:
- Se tudo der muito certo: Você talvez ganhe um pouco mais que o CDI.
- Se as coisas derem errado: Você não ganha nada ou, no pior dos casos, pode até perder dinheiro. Eu já vi casos de COEs com “perda limitada” que geraram 3 anos de capital totalmente lateralizado sem rentabilizar nada, travando 40% a 60%. do capital de investidores que se diziam serios.
Você quer realmente colocar uma parte relevante do seu patrimônio em algo que você mal entende, onde o cenário mais provável é um empate com o investimento mais conservador do mercado?
Seu Dinheiro, Seu Comando
O problema central aqui nunca foi o COE. O problema é a transferência de poder. É o ato de entregar o controle do seu futuro financeiro a alguém cujo interesse principal não é o seu bem-estar, mas a própria comissão.
A solução não é virar um especialista em mercado financeiro. A solução é retomar o comando. É entender o básico para não ser enganado. É saber fazer as perguntas certas. A pergunta mais importante que eu sempre faço antes de qualquer investimento não é “quanto isso pode render?”, mas sim “eu entendo exatamente onde meu dinheiro está indo e quais são os riscos?”.
Se a resposta for “não”, a decisão já foi tomada. Agradeça ao gerente, desligue o telefone e vá investir seu dinheiro em algo que te dê clareza e paz de espírito. Seu futuro financeiro é importante demais para ficar dentro de uma caixa surpresa montada por outra pessoa.



